Amigues, antes de começar a ler o texto, recomendo que deem play no vídeo abaixo, a experiência de leitura será mais completa. Aproveitem!
Foi num churrasco com amigues da escola, uns moleques aleatórios e ninguém muito próximo realmente. Tinha muita vodka, um mano não para de oferecer Whisky; ela aceitou. "Vamos fumar um beck?" Ela foi. Tudo ia bem, até que uma hora ela perdeu o controle, já não estava dentro de si, não julgava mais quais eram as ações racionais dela, dando espaço a uma outra parte do cérebro responsável pelo "modo automático" e algumas coisas reprimidas no subconsciente. Era o dia do aniversário de um parceiro, ela sabia faz tempo desse rolê mas não pretendia ir, ela só queria ficar sussa deopis do churrasco e ir pra casa. Flashbacks. Chegando na festa. Cumprimentando alguns amigos, um primo. A cara de um moleque. A cara de outro moleque. Um sorriso bem branco. A pele bem preta. Um portão. Uma rua conhecida. E acordou em casa. Fedendo a cachaça, a cara inchada, cadê a bolsa? Não sabia o que tinha acontecido. Olhou no Facebook e umas mensagens. Era o moleque da festa. "Você falou várias bosta pra mim, tava locona." "Quando vamos dar uns beijo de novo?" A vergonha tomou conta de seu corpo, um fogo descia da cabeça até suas partes íntimas, o medo de ter sido violada dava ânsia de vômito. O que pensaria seu namorado? Ela estava com raiva nesse dia, ele deixou ela na mão, ela só queria esquecer a briga, não deve ter acontecido nada. "Ae, mas você lembra de tudo né? Chupei a buceta mesmo kkkk". Será quer tinha sido só ele? Ela estava com a imagem de outro mano na cabeça. "Cê tava quase transando com o fulaninho na rua, fiquei puto contigo". Confirmou as ideias. Ela não sabia o que fazer. Será que tinha foto? Vídeo? Será que o moleque é da quebrada? "Se ficar locona daquele jeito eu to nem vendo, vou debulhar mesmo". O nojo do seu próprio corpo, a raiva por não lembrar de nada e o desejo de desaparecer nunca havia sido tão grande (mesmo ela sempre querendo sumir). Se sentiu culpada, se sentiu uma puta, se sentiu aquela mina que ela zoou na 7ª série por ter feito um vídeo num rolê e o mesmo ter vazado, se sentiu um lixo, se sentiu o tipo de gente que ela sempre julgou. Ficou se perguntando porquê e como não parou de beber até ficar daquele jeito, se perguntou também porquê os amigos dela viram ela daquele jeito e não fizeram nada. Bloqueou todos nas redes sociais, não passou mais na praça, não foi mais pra escola, estava com medo de ser reconhecida, apontada.
Um mês se passou. A culpa amenizou (um pouco). Foi num barzinho com uns amigues e ele estava lá. A encarou com um sorrisinho. Disse algo para os amigos. A vergonha tomou conta dela. O fogo da frustração e a vontade de sumir esmagavam a mente dela como uma enxaqueca fulminante. "Preciso ir embora agora, sério, não dá mais pra ficar". Saiu com a cabeça baixa, a respiração ofegante.
Ela nunca quis saber o que aconteceu naquela noite. Ela não quis perguntar para os amigos. Ela não quis saber do suposto vídeo. Ela não quis saber se os manos falaram/falam dela. Ela quis esquecer. Ela quis esquecer que um dia foi estuprada mas todo mundo, antes mesmo de saber do caso dela, já comentava sobre outras garotas dizendo "Quem manda ficar tão louca? tem que cuidar do próprio corpo".
Até hoje ela tem medo de ser reconhecida. Ela finge que nada aconteceu. Ela tem medo de beber. Ela tem medo de festas na quebrada. Ela tem medo de um dia morrer e as imagens daquela noite voltarem à tona. Ela tem medo. Ela tem nojo. Ela tem nojo de si.
Não romantizem um estupro. Diga não à essa cultura.
Foi num churrasco com amigues da escola, uns moleques aleatórios e ninguém muito próximo realmente. Tinha muita vodka, um mano não para de oferecer Whisky; ela aceitou. "Vamos fumar um beck?" Ela foi. Tudo ia bem, até que uma hora ela perdeu o controle, já não estava dentro de si, não julgava mais quais eram as ações racionais dela, dando espaço a uma outra parte do cérebro responsável pelo "modo automático" e algumas coisas reprimidas no subconsciente. Era o dia do aniversário de um parceiro, ela sabia faz tempo desse rolê mas não pretendia ir, ela só queria ficar sussa deopis do churrasco e ir pra casa. Flashbacks. Chegando na festa. Cumprimentando alguns amigos, um primo. A cara de um moleque. A cara de outro moleque. Um sorriso bem branco. A pele bem preta. Um portão. Uma rua conhecida. E acordou em casa. Fedendo a cachaça, a cara inchada, cadê a bolsa? Não sabia o que tinha acontecido. Olhou no Facebook e umas mensagens. Era o moleque da festa. "Você falou várias bosta pra mim, tava locona." "Quando vamos dar uns beijo de novo?" A vergonha tomou conta de seu corpo, um fogo descia da cabeça até suas partes íntimas, o medo de ter sido violada dava ânsia de vômito. O que pensaria seu namorado? Ela estava com raiva nesse dia, ele deixou ela na mão, ela só queria esquecer a briga, não deve ter acontecido nada. "Ae, mas você lembra de tudo né? Chupei a buceta mesmo kkkk". Será quer tinha sido só ele? Ela estava com a imagem de outro mano na cabeça. "Cê tava quase transando com o fulaninho na rua, fiquei puto contigo". Confirmou as ideias. Ela não sabia o que fazer. Será que tinha foto? Vídeo? Será que o moleque é da quebrada? "Se ficar locona daquele jeito eu to nem vendo, vou debulhar mesmo". O nojo do seu próprio corpo, a raiva por não lembrar de nada e o desejo de desaparecer nunca havia sido tão grande (mesmo ela sempre querendo sumir). Se sentiu culpada, se sentiu uma puta, se sentiu aquela mina que ela zoou na 7ª série por ter feito um vídeo num rolê e o mesmo ter vazado, se sentiu um lixo, se sentiu o tipo de gente que ela sempre julgou. Ficou se perguntando porquê e como não parou de beber até ficar daquele jeito, se perguntou também porquê os amigos dela viram ela daquele jeito e não fizeram nada. Bloqueou todos nas redes sociais, não passou mais na praça, não foi mais pra escola, estava com medo de ser reconhecida, apontada.
Um mês se passou. A culpa amenizou (um pouco). Foi num barzinho com uns amigues e ele estava lá. A encarou com um sorrisinho. Disse algo para os amigos. A vergonha tomou conta dela. O fogo da frustração e a vontade de sumir esmagavam a mente dela como uma enxaqueca fulminante. "Preciso ir embora agora, sério, não dá mais pra ficar". Saiu com a cabeça baixa, a respiração ofegante.
Ela nunca quis saber o que aconteceu naquela noite. Ela não quis perguntar para os amigos. Ela não quis saber do suposto vídeo. Ela não quis saber se os manos falaram/falam dela. Ela quis esquecer. Ela quis esquecer que um dia foi estuprada mas todo mundo, antes mesmo de saber do caso dela, já comentava sobre outras garotas dizendo "Quem manda ficar tão louca? tem que cuidar do próprio corpo".
Até hoje ela tem medo de ser reconhecida. Ela finge que nada aconteceu. Ela tem medo de beber. Ela tem medo de festas na quebrada. Ela tem medo de um dia morrer e as imagens daquela noite voltarem à tona. Ela tem medo. Ela tem nojo. Ela tem nojo de si.
Não romantizem um estupro. Diga não à essa cultura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário